Review – Vampire Therapist

Um romance visual que retrata a realidade: todo mundo precisa de terapia

Vampire Therapist é um romance visual desenvolvido pela Little Bat Games, carregado de humor e crítica, além de doses de cenas “sexys” e despidas de moralismo, tal qual What We Do in the Shadows. A premissa de ser um “simulador” de terapia funciona bem, já que o jogador tem a missão de guiar vampiros em seus processos terapêuticos, assumindo o papel do vampiro Sam, que busca suas próprias resoluções e paz interior. A visual novel também cumpre bem o papel de introduzir conceitos da terapia cognitivo-comportamental, como o “manejo de contingências*”.

*Manejo de contingência (MC) é uma estratégia psicológica que oferece incentivos para que um paciente mude seu comportamento.

Vozes conhecidas nos games

Com um elenco de vozes fantástico, incluindo nomes como Matthew Mercer, Sarah Grayson e Cyrus Nemati, o jogo ensina conceitos reais aplicados em terapias comportamentais e faz com que o jogador entenda como utilizá-los, tornando seus pacientes mais conscientes do processo que enfrentam. Entre os temas explorados estão: vida, morte, luto, melancolia, solidão… ou seja, tudo aquilo que, querendo ou não, se precisa enfrentar ao se tornar um ser imortal.

Sam é um vampiro “cowboy” morto há mais de 200 anos, que precisa lidar com seus traumas. Sua longa existência o fez perceber que vampiros e humanos lidam com fatores complexos e, às vezes, só precisam de terapia. Ele procura Andromachos, um vampiro antigo e dono de uma boate alemã, que o ensina novas abordagens terapêuticas para sua espécie. Andromachos convida Sam para a boate, onde oferece treinamento contínuo, clientes, sangue (consensual) à vontade e terapia para si mesmo.

Durante sua estadia, Sam conhece personagens de várias épocas históricas, cada um com problemas distintos. Por exemplo, Isabella d’Este é alguém tão absorta em estar certa após séculos de vida que não consegue aceitar imperfeições alheias. Baseada em uma figura renascentista italiana real, assim como outros personagens, ela exemplifica como Vampire Therapist equilibra comédia e crítica, tornando situações complexas hilárias.

Jogabilidade analítica

Na jogatina, sua função é ouvir os clientes e identificar “distorções cognitivas” — conceito da psicologia comportamental que se refere a declarações que distorcem a realidade. Por exemplo, uma “Should Statement” (Declaração de Deveria) ocorre quando alguém afirma que “deveria” fazer algo que não é sua responsabilidade. Ao longo do jogo, você aprende mais dessas distorções, ampliando seu kit de ferramentas. Andromachos explica que todas as pessoas usam distorções cognitivas, o que permite personalização nas sessões.

No início, o jogo define a distorção primária de um cliente, e você escolhe mais quatro de uma lista. A “rejogabilidade” incentiva experimentar combinações diferentes para desbloquear diálogos cômicos. A ilusão de controle total em um jogo linear é, ironicamente, uma distorção cognitiva chamada “Falácia de Controle”.

Vampire Therapist se destaca artisticamente com ilustrações estáticas detalhadas que transmitem emoções e gestos. Apesar de cenários limitados, a qualidade visual impressiona. Com animações mínimas, a dublagem assume protagonismo, principalmente pelo trabalho de Cyrus Nemati (conhecido por Hades e Duck Detective: The Secret Salami), que dubla vários personagens.

O elenco inclui Matthew Mercer como Reinhard, um vampiro gótico alemão extravagante obcecado por Sam. A trilha sonora, embora adequada ao ambiente de boate, inicialmente repetia uma única faixa devido a um bug, já corrigido em patch.

Vampire Therapist é uma visual novel de qualidade

Para quem busca um jogo “acolhedor” (cozy), Vampire Therapist oferece personagens peculiares e interações bem-humoradas. Porém, os minigames apresentaram desafios: um bug tornava o minigame de meditação quase impossível sem alternar entre mouse e controle; outro causava perda de progresso não salvo. Felizmente, o jogo salva automaticamente ao final de cada dia, e o botão TAB acelera diálogos para recuperar o tempo perdido. Após atualizações, esses problemas foram resolvidos.

Apesar de algumas distorções cognitivas serem difíceis de interpretar — o que pode atrapalhar uma “run” perfeita — e do bug musical inicial, a experiência geral é muito agradável.

Por fim, Vampire Therapist é uma visual novel excelente. Poucos jogos lineares mantêm o interesse com personagens tão bem escritos e dublagem impecável. Além disso, integra conceitos de psicologia cognitivo-comportamental de forma acessível, ensinando o jogador sobre si mesmo enquanto acompanha a jornada de autodescoberta de Sam.

O final aberto sugere que Vampire Therapist 2 está a caminho.

Vampire Therapist está disponível na Steam por R$ 46,99. Vale aguardar uma promoção!