Review – The First Berserker: Khazan
O gênero soulslike é um dos mais disputados atualmente: inúmeros estúdios tentam imitar a fórmula da série Souls, enquanto outros usam-na como inspiração para criar algo único. Esse foi o caso da série Nioh, que se baseou em Souls para desenvolver um combate mais ágil, loot abundante, elementos adicionais de RPG e mecânicas de combate mais complexas.
É dessa série que Khazan extrai sua inspiração para buscar seu próprio espaço — e, em grande parte, o jogo consegue criar uma base sólida de gameplay, combate e exploração logo em sua primeira tentativa, desenvolvida pelo estúdio coreano Neople.
História
O jogo se baseia na trajetória de um personagem da bem-sucedida franquia Dungeon Fighter Online. O jogador assume o papel de Khazan (um chefe/inimigo do jogo original), um guerreiro leal ao império que é traído por sua crescente popularidade entre o povo e exilado após ter os tendões cortados. Durante o exílio, um acidente o leva a encontrar uma forma de se reerguer.
A narrativa nunca foi o ponto forte de RPGs de ação, e aqui não é diferente. O jogo oferece cutscenes e diálogos com diversos personagens, mas tudo é abordado superficialmente. É uma história que cumpre seu papel: justificar a carnificina que se desenrola a seguir.
Combate
A parte mais importante de qualquer jogo do gênero — e, de longe, a mais forte em Khazan é o combate que traz a opção de três parries diferentes, cada um mais arriscado que o anterior, porém com recompensas maiores.
Por exemplo: você pode bloquear com o timing perfeito (Brink Guard), não sofrendo dano, drenando a stamina do adversário sem perder a sua.
Se preferir, tente o contra-ataque (Riposte), que exige timing mais preciso, mas causa dano significativo à stamina do inimigo e frequentemente interrompe seus combos.
Há também o parry de habilidades específicas, indicado por um símbolo no oponente. Nesses casos, você não pode se defender normalmente, mas pode contra-atacar no momento exato para abrir uma janela de dano ampla.
Mas, se parry não for seu forte, não se desespere: o jogo permite desviar de todos os ataques. Para pelo menos uma das armas, essa mecânica é mais eficaz que o parry.
Falando em armas, Khazan oferece três opções distintas: espadas duplas, lança ou espadão. À primeira vista, a limitação a três tipos pode parecer restritiva, mas, na prática, essa foi uma das melhores decisões da desenvolvedora. A variedade surge nas combinações de habilidades e na profundidade tática de cada arma, garantindo rejogabilidade sem sobrecarregar o jogador.
Cada arma tem uma árvore de habilidades própria, que você vai evoluindo durante o jogo e que, em outra decisão brilhante do estúdio, você pode adicionar e remover os pontos dela a qualquer momento, te dando muita liberdade para testar e encontrar seu estilo de gameplay favorito.
Aproveito esse momento para deixar minha recomendação de arma: para iniciantes, a lança é de longe a melhor escolha, pois tudo nesse jogo se trata de stamina — o quanto você tem e quão rápido consegue drenar a do adversário —, e a lança faz isso com maestria, tornando o jogo muito mais simples para uma primeira viagem.
Já o espadão é para quem quer focar em dominar o parry, pois ele pune severamente os adversários se você tiver timings perfeitos (até por isso é a arma preferida de quem faz no-hit runs). as armas duplas são para quem gosta de velocidade e, no late game, o gameplay delas vira um fluxo constante de habilidades e dashes.
Toda essa variedade de estilos, parries e desvios se junta a um combate extremamente rápido e fluido. As animações do Khazan são incríveis e te deixam tão confiante em suas respostas que, quando você erra, tem certeza de que foi culpa sua.
Chegando ao late game, o combate evolui drasticamente, com combos superlongos, habilidades extras desbloqueáveis e um ritmo de luta que lembra mais Devil May Cry 5 do que Nioh.
Ressaltando que todo esse combate é acompanhado por um sistema de loot extenso e competente.
Loot, loot e mais loot
Seguindo os passos de sua inspiração, Khazan não mede esforços para te entregar loot constante. Você tem 5 espaços de armadura, um anel, um colar e, é claro, sua arma. Todos esses itens têm níveis distintos de raridade, indo do comum ao lendário, e o drop é frequente.
A parte mais interessante do sistema de loot começa a aparecer por volta do meio do jogo. Antes disso, você encontra alguns sets bônus que concedem stats adicionais, mas chega um momento em que equipamentos começam cair com certa frequência dos inimigos derrotados. Se você completar o set inteiro, novas habilidades serão desbloqueadas, possibilitando alterar até seu estilo de jogo.
Muitos desses sets, aliás, estão vinculados aos chefes da campanha, que podem ser farmados facilmente para obter o set desejado — ou até criá-los na sua base posteriormente, usando itens-chave através de um ferreiro.
A obtenção de loot é parte central da gameplay, e por isso a maioria dos chefes possui um ponto de teleporte logo antes deles, permitindo que você reinicie o mapa para derrotá-los quantas vezes forem necessárias até conseguir os itens ou saciar a sua diversão pelo combate.
No início do jogo, as missões são relativamente curtas, com mapas lineares e alguns segredos escondidos. Conforme a campanha avança, os mapas tornam-se mais complexos, com idas e vindas, atalhos, segredos e colecionáveis extras.
As missões secundárias tendem a ser mais rápidas, com mapas menores — muitas vezes apenas uma luta contra um chefe ou uma breve exploração —, oferecendo experiência e pontos de habilidade sem precisar parar para farmá-los.
O level design certamente não é o ponto mais elaborado de Khazan, mas não se torna um empecilho e cumpre bem seu propósito: levar você à próxima batalha o mais rápido possível.
Chefes
Outro pilar do gênero e outro triunfo de Khazan. Os chefes da campanha são incríveis, com alguns servindo de “paredes” que exigem domínio das mecânicas (olhando para você, Maluca).
São extremamente criativos, com lutas espetaculares e divertidas de repetir dezenas de vezes. É um dos poucos jogos do gênero que conseguiu tornar um chefe mago desafiador sem ser entediante.
Já os chefes das missões secundárias são, em geral, versões mais difíceis dos chefes da campanha: reaproveitam lutas anteriores, mas adicionam golpes novos, movimentação acelerada e/ou dano maior. Alguns são inimigos de elite da campanha aprimorados.
The First Berserker: Khazan se destaca em meio aos grandes
The First Berserker: Khazan é um triunfo do estúdio Neople e da Nexon. Ele estabelece uma base sólida para futuros desenvolvimentos e se consolida como um dos melhores jogos do gênero dos últimos anos, ao lado de Lies of P, como um action RPG de excelência fora das grandes produtoras. Mal posso esperar pelo próximo capítulo que a Neople trará para essa história.
Texto por Alexandre Trevisan
The First Berserker: Khazan: O jogo destaca-se pelo combate profundo e chefes criativos, além de mapas que evoluem em complexidade. Porém, sua narrativa é superficial e missões secundárias repetitivas. Um soulslike sólido e inovador, recomendado para fãs do gênero e parceiro digno de Lies of P, apesar do preço elevado no Brasil. – convidadogeeks